APRENDENDO MAIS SOBRE ANO LITÚRGICO: ANO A - MATEUS
São Mateus, padroeiro dos contadores, escreveu o primeiro dos três evangelhos sinóticos, originalmente escrito em aramaico, entre os anos de 60 e 90. |
EVANGELHO DE SÃO MATEUS (ANO A - 2017)
Estamos iniciando o Ano Catequético e
precisamos estar atentos às leituras do Evangelho Dominical. Este é o Ano
Litúrgico A, com leituras do Evangelho de São Mateus. Vamos conhecer um pouco
mais deste Evangelho e do Ano Litúrgico?
O que são as letras A, B e C do Ano
litúrgico?
As leituras Bíblicas que ocorrem nas
celebrações são determinadas de acordo com o Ano Litúrgico, criado
para acompanharmos através das leituras dos textos bíblicos (evangelho e outros
livros) a vida de Jesus em ordem cronológica do nascimento até a ascensão aos
céus. Assim ouvimos nas celebrações textos que falam do anúncio do Messias, da
encarnação, de seu ministério público, com seus milagres e curas, do chamado ao
discipulado, discursos, parábolas até culminarmos com morte e ressurreição nos
preparando para a Parusia, ou seja, do
Cristo Rei do Universo no final do ano litúrgico. A ideia desta distribuição de
textos bíblicos ao longo de três anos tem como objetivo se ter uma visão e
leitura de toda a Bíblia.
O rito romano, utilizado nas
celebrações da Igreja católica possui um conjunto de leituras bíblicas que se
repetem a cada três anos perpassando os domingos e as solenidades. A cada ano,
a liturgia das celebrações segue uma sequência de leituras próprias, divididas em
anos A, B e C.
- No ano “A” a leitura principal
do evangelho na celebração segue o Evangelho de São Mateus;
- No ano “B”, a leitura principal
do evangelho segue o Evangelho de São Marcos;
- No ano “C”, a leitura principal
do evangelho segue o Evangelho de São Lucas.
Já o Evangelho de São João é
reservado para as ocasiões especiais, principalmente as grandes Festas e
Solenidades, para este evangelho não existe um ano litúrgico.
O ano litúrgico
inicia-se no primeiro domingo do Advento (cerca de quatro semanas antes do
Natal) e se encerra com a solenidade de Cristo Rei do Universo do ano seguinte.
Como estamos prestes
a voltar à catequese, já no ANO A, vamos saber mais sobre o Evangelho de
Mateus, neste artigo de Frei Ildo Perondi, biblista.
ESTUDO DO EVANGELHO
DE SÃO MATEUS
PLANO GERAL DO
EVANGELHO DE MATEUS
1 - Evangelho da Infância de Jesus:1,1-2,23 - Mateus narra
infância de Jesus para proclamar que Ele é o Herdeiro das promessas feitas a
Abraão e a David (Genealogia), é o descendente de David anunciado pelos
Profetas (1ª passagem), reúne os traços de Salomão, o sábio (2ª passagem) e de
Moisés, o salvador do povo (3ª passagem). Os pagãos vêm a Ele com presentes,
como o tinham anunciado os profetas (2ª passagem).
2
- Anúncio do Reino do Céu: 3,1-25,46 - São Mateus mostra-nos o
princípio do Reino dos Céus: Jesus é anunciado e proclamado como Filho de Deus,
nas tentações cumpre a vontade do Pai como verdadeiro Filho e no sermão
ensina-nos a cumprir essa mesma vontade de Deus, para podermos receber o Reino
dos Céus (5, 20) e ser também filhos de Deus (5, 45). Os capítulos 8 e 9 do
Evangelho mostra o poder do Reino dos Céus; Cristo é Aquele que tem esse poder
e demonstra-o fazendo milagres e perdoando os pecados, no mesmo tempo que
expulsa os demônios; mas logo a seguir, transmite este poder aos Doze, de modo
que esse poder se perpetue na Igreja.
3
- Paixão e Ressurreição de Jesus: 26,1-28,20 - Mateus apresenta Jesus como o Filho de David, o
herdeiro do Reino (2 Samuel 7, 12-14), e também como o Emanuel (“Deus
conosco”), da profecia de Isaías (7, 14). No entanto, o título que mais lhe
interessa é o de Filho de Deus. A imagem de Cristo apresentada por Mateus é a
do enviado de Deus, na qual se vão cumprir todas as expectativas do Antigo
Testamento. Cristo é a realização de tudo o que fala o Antigo Testamento; dito
de outra maneira, Mateus contempla todos os personagens do Antigo Testamento
como figuras de Cristo, enquanto que Cristo é a realidade, na qual tudo se
cumpre. É como se tudo o que dizia a Sagrada Escritura até então, fosse algo
vazio que agora se enche, ou como um desenho que agora tem de se terminar de
pintar.
Mateus fala
frequentemente do “Reino de Deus”,
ou do “Reino dos Céus”, dando
preferência a esta última expressão, sem fazer aparentemente distinção entre as
duas formas. Os outros evangelistas, ao contrário, usam mais a primeira. É
notável a frequência com que Mateus se refere ao Reino: enquanto Mateus
refere-o 50 vezes, Marcos refere-o somente 14 e Lucas 39.
Deve-se recordar
que a “Boa Nova” consiste em Deus que vem reinar sobre o seu povo. O Reino dos
Céus não é algo que está exclusivamente do outro lado (no Céu), mas sim, que vem
a este mundo: Deus vem exercer a sua função de Rei, transformando tudo, tanto o
mundo, como os homens. O Reino dos Céus vem a este mundo, começa a ganhar forma
na terra, e terá a sua consumação nos Céus. São Mateus preocupa-se em mostrar
que a boa nova da chegada do Reino dos Céus dá-se na pessoa de Jesus Cristo. O
Reino dos Céus anunciado e preparado no Antigo Testamento já está presente em
nós, porque Jesus é o cumprimento de todas as profecias. Jesus forma uma
comunidade, na qual se começam a manifestar os sinais da presença do Reino. São
Mateus é o único evangelista que dá o nome de “Igreja” a esta comunidade
(Mateus 16, 18).
DETALHES DO
EVANGELHO DE MATEUS
Autor: Mateus significa “dom de Deus” (Matatias, no
hebraico) é um dos Doze Apóstolos. Foi chamado enquanto estava sentado na sua
banca, pois era cobrador de impostos (9,9). Depois do chamado ofereceu um
almoço para Jesus e seu grupo (9,10-13). É o mesmo Levi de Lc 5,27 e era filho
de Alfeu (Mc 2,14).
Local e data: Na Bíblia, é o
primeiro Livro do NT (é o mais longo dos quatro Evangelhos). A maioria dos
autores hoje concorda que foi escrito no norte da Galiléia; outros afirmam que
foi na Síria (Antioquia). Foi escrito primeiro em hebraico ou aramaico. Não
temos mais o original. A data deve ter sido por volta dos anos 80-90 dC.
Seguramente depois que os romanos destruíram o Templo no ano 70, e quando os
cristãos já não podiam mais freqüentar as sinagogas dos judeus.
Objetivo: O objetivo
principal deste Evangelho é que Mateus quer responder a duas perguntas, que com
certeza os cristãos se colocavam depois da vida, morte e ressurreição de Jesus:
- Quem é Jesus? (conhecer). Jesus é o Emanuel, o
Deus conosco, o Filho de Deus!;
- Como seguir Jesus Cristo? (fazer o que Ele
mandou). Mateus mesmo dá o exemplo. Jesus o chama: Segue-me! E ele, levantando-se, o seguiu! (cf.
9,9).
Destinatários: Mateus escreve para
os judeus que se converteram ao cristianismo, por isso utiliza muito o AT e usa
muitos termos hebraicos. Mas a mensagem de Jesus é universal e por isso o
Evangelho termina afirmando: “fazei que todas as nações se
tomem discípulos meus... (28,19).
CARACTERÍSTICAS
PRINCIPAIS DO EVANGELHO DE MATEUS
1. A certeza que Jesus é Deus
presente no meio de nós: no início, meio e final:
- 1,23: “Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que quer dizer: Deus está
conosco”;
- 18,20: “Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no
meio de deles”;
- 28,20: “Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos
séculos”.
2. É o Evangelho do Pai:
Enquanto que em
Marcos Jesus aparece mais e é mais cristológico; em Lucas é o Espírito
Santo que tem uma função especial; em Mateus é a primeira pessoa da Santíssima
Trindade que tem destaque. Numerosas são as vezes em que Jesus fala
de Deus como doPai nosso (21 vezes contra 5
de Lucas); o seu Pai (18 vezes, contra 6
de Lc e 3 de Mc). Passagens interessantes são: 10,29 (cf. Lc 12,6); 10,20 (cf.
Lc 12,12); 20,23 (cf. Mc 10,40). Algumas parábolas, que
se encontram exclusivamente em Mateus, são verdadeiras parábolas do “Pai”: a
parábola do servo infiel (18,23-35, cf. v. 35), a parábola dos trabalhadores na
vinha (20,1-12), a parábola das bodas reais (22,1-14; cf. Lc 14,16-24), a
parábola dos dois filhos (21,28-31), a parábola do joio e do trigo (13,24-30;
cf v.27).
3. É o Evangelho da Justiça:
(3,15; 5,6; 10,20;
6,1.33; 21,32, etc.)
- Jesus nasce no
ambiente de um homem justo (1,19);
- As primeiras
palavras de Jesus neste Evangelho são: “deixe como está, pois convém
que cumpramos toda a justiça” (3,15);
- A busca
fundamental nossa deve ser “o reino dos céus e sua justiça”
(6,33);
- O julgamento de
Deus será pela justiça e misericórdia que praticamos (25,31-46).
- O tema da
“recompensa” aparece muitas vezes.
4. O projeto que Jesus anuncia é uma
Boa Notícia, chamado de Reino dos Céus:
- O tema do Reino
“dos céus” (ou “de Deus” – 5 vezes) aparece 54 vezes no Evangelho;
- Mateus prefere
usar “reino dos céus”, para evitar a expressão “reino de Deus”, pois os judeus,
por respeito, evitavam pronunciar o nome de Deus (YHWH – Javé).
5. A valorização da história e do
Antigo Testamento:
- Jesus nasce da
descendência do povo hebreu. São 14 vezes três gerações (1,17). 14 é a soma das
consoantes hebraicas do nome David dwd (4 + 6 + 4 = 14). Jesus é três vezes
Davi;
- Várias vezes
encontramos “para se cumprir as Escrituras”, ou “o que foi dito pelos Profetas”; ou “também está escrito”; ou “ouviste o que foi dito aos
antigos”, etc.
6. As mulheres:
- Na genealogia de
Jesus aparecem 5 mulheres. Isso era incomum no ambiente judaico. Todas têm
problemas: Tamar que perdeu o marido e se
fez passar por prostituta (Gn 38);Raab é
prostituta (Js 2,1-21); Rute é moabita,
isto é, uma estrangeira (Rt 1,4); Betsabéiaera mulher
de Urias, que Davi mandou matar para ficar com ela (2Sm 11 e 12); e Maria, que ainda não era casada com José;
- É uma mulher que
unge Jesus e prepara seu corpo para a sepultura (26,6-13);
- As mulheres
são o grupo que é fiel até o fim (27,55-56.61) e são as primeiras as receberem
a boa notícia da ressurreição de Jesus e serão as primeiras anunciadoras de que
Jesus está vivo (28,1-10);
- Porém, a infância
de Jesus é contada na ótica de José e não de Maria, como em Lucas.
7. Aparecem fortes conflitos com os
judeus, principalmente com os fariseus:
O Evangelho foi
escrito depois da destruição de Jerusalém e do templo (70 dC). Era um momento
de ruptura entre judeus e cristãos. Era o tempo da reestruturação do judaísmo
formativo. Os cristãos nesta época eram expulsos das sinagogas, por isso Mateus
fala das “suas/vossas sinagogas” ou “sinagogas deles”
(4,23; 9,35; 10,17; 12,9; 13,54; 23,34).
8. Evangelho das Bem-aventuranças (Mt
5,1-12):
- São 7 ou 9,
depende de como são contadas;
- A recompensa na
primeira (aos pobres) e na sétima (aos perseguidos pela justiça) a promessa é
no presente “deles é o reino dos céus”. As demais são no futuro: herdarão a terra; serão saciados…;
- Diferente de
Lucas, os “Ai de vós” não vêm em seguida aos “felizes / bem-aventurados vós”.
Eles aparecem no
capítulo 23;
- Deus quer o povo
feliz! E essa felicidade começa logo para quem entra no Reino;
- Pessoas pobres,
doentes, endemoninhadas, famintas, cegas, desempregadas, crianças, mulheres,
multidões… Este é o povo que Jesus encontra e são as privilegiadas no anúncio
do Reino.
9. Os números em Mateus:
Mateus usa muito os
números, sobretudo 3, 5, 7 e 10. Ex.: narra 3 tentações de Jesus; 3 “quando…” (6,2.5.16); 3 súplicas no monte das Oliveiras;
temos 3 negações de Pedro; 3 séries de 14 (7 x 2) gerações na genealogia de
Jesus. Encontramos 7 discursos de Jesus, 7 parábolas sobre o Reino;
- O Evangelho está
organizado em 5 livrinhos (igual ao Pentateuco, no AT);
- Devemos perdoar
não 7 vezes, mas setenta vezes sete, isto é, infinitamente;
- Encontramos em
Mateus 10 milagres (igual às 10 pragas ou aos 10 Mandamentos no AT).
10. Jesus é o novo Moisés:
- A matança dos
meninos (2,13-18) recorda um fato semelhante com Moisés (Ex 1,15-22);
- Jesus é maior que
Moisés, pois Ele cumpre toda a Lei (5,17) e lhe dá uma nova interpretação
(5,21-48; 19,3-9.16-21);
- Várias vezes,
Jesus sobe à montanha. Esta era o lugar privilegiado para o encontro com Deus.
Jesus sobe à Montanha (5,1), assim como Moisés foi ao Sinai. O sermão na
Montanha (5-7) e o envio dos Apóstolos pelo mundo (28,16-20) lembram as tábuas
da Lei dadas a Moisés no Monte Sinai.
11. O verbo “ver”:
- Jesus “viu” os
primeiros Apóstolos (4,18.21); “viu” Mateus (9,9); “viu” as multidões (5,1;
8,18; 9,36); “viu” a sogra de Pedro de cama (8,14); “viu” a mulher doente
(8,22); etC.
12. É o Evangelho da Igreja:
- Duas vezes
aparece a palavra ekklesía: Igreja / Assembléia
(16,18; 18,17);
- Mateus procura
corrigir certos problemas da comunidade: o perdão aos que erram, o bom
comportamento (parábola do semeador, todo o capítulo 18, a questão da
autoridade, o perdão etc.);
- Ele quer
demonstrar que os cristãos são o novo Povo de Deus e a Igreja é o verdadeiro
Israel;
- O batismo
substitui a circuncisão. É o novo sinal de pertença ao povo de Deus;
- Foi o Evangelho
mais usado na Igreja primitiva. Seu estilo é de Catequese.
Frei Ildo Perondi –
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