sexta-feira, 18 de março de 2016

Via sacra das criança

Via Sacra das Crianças


O caminho que Jesus percorreu de Jerusalém até o Calvário, desde o início, foi chamado de “Via Crucis” (caminho da cruz), ou “Via Sacra” (caminho sagrado). Ao longo dos séculos, tornou-se a peregrinação pela qual somos convidados a acompanhar os passos de Jesus que, com seu sofrimento, deu a Vida ao mundo.

Celebrando a Via Sacra, não podemos deixar de ver, na dor de Jesus, o Filho de Deus, as dores do mundo, sobretudo, dos mais inocentes e pequeninos.

Naquela Sexta-Feira da Paixão, todos estavam presentes, e, por meio d’Ele, o mundo foi reconciliado com Deus.



1ª ESTAÇÃO - Jesus é condenado à morte


“Pilatos querendo satisfazer à multidão,
soltou Barrabás, mandou açoitar Jesus e o
entregou para ser crucificado”. (Mc 15,15)
Em alguns países também as crianças e os adolescentes podem ser processados e condenados, não tem a possibilidade de defesa e esperam, sem esperança, a pena.

Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando Pilatos te condenou à morte, tu querias rebelar-te, porque eras inocente; mas, depois, olhaste longe e enxergaste o rosto de muitas crianças condenadas à morte por causa de guerras injustas, de doenças, da fome, da miséria moral e material.
Aqueles rostos, Senhor, convenceram-te a aceitar, sem justificação, a condenação, como uma criança que não sabe e não pode pedir explicação por um sofrimento que não mereceu.

Perdoa-nos Senhor, por não aprendermos a respeitar a vida humana e ainda aceitarmos condenar à morte tuas criaturas, feitas à tua imagem e semelhança.


2ª ESTAÇÃO - Jesus carrega a cruz

“Jesus carregou a cruz nas costas e
 saiu para um lugar chamado Calvário
 (em hebraico: Gólgota)”. (Jo 19,17)

250 milhões de crianças no mundo trabalham como escravos: nas fábricas de tapetes, de fósforos, de alimentos congelados, de brinquedos, nas minas de carvão, nas vidraçarias, nas colheitas de ervas de chá, nas fazendas de cana-de-açúcar...
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando te apresentaram a cruz, tua a abraçaste, porque carregar aquele peso te ajudava a amar e a ter compaixão das crianças que, todo dia, carregam sobre os ombros pesados tijolos e que nas minas são obrigadas a empurrar pesados carrinhos de carvão. Pensaste nos cortadores de cana-de-açúcar debaixo do sol quente, sem um mínimo de descanso; nos tecelões de tapetes, fechados em pequenos e úmidos quartos; nas meninas que trabalham nas fábricas de brinquedos, de fósforos, de congelados; nos pequenos colhedores de ervas de chá; nos pequenos guardiões de rebanhos; nos 250 milhões de crianças trabalhadoras, vencidas pelo cansaço e pagas miseravelmente.

Jesus, pedimos-te perdão porque nossa sociedade impõe às crianças pesos maiores do que elas, deixando-as sozinhas a carregar a  cruz.


3ª ESTAÇÃO - Jesus cai debaixo da cruz

“Protege-me, Senhor, das mãos do ímpio,
salva-me do homem violento: eles planejam
me fazer cair”.  (Salmo 140,5)

Em todo o mundo existem mais de 600 mil meninos soldados. São treinados para guerra, atiram com ousadia, mas, em seus corações, existe muito medo...
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando caíste debaixo da cruz, não pensaste em si mesmo, mas nos teus e nossos irmãos pequeninos, que caíram na rede dos soldados cruéis.
Ainda muito pequenos, são treinados para guerra, obrigados a atirar, ferindo, sem remédio, seus corações. A pequena metralhadora é a cruz dos meninos soldados: desmontam-na, carregam-na e lustram-na. Parecem fortes, mas, no coração, têm muito medo. À noite, como travesseiro, usam aquele instrumento de guerra, e os seus sonhos são tingidos de sangue. Estes rapazinhos, como tu, sem o ter procurado, sobem ao calvário sob o peso das armas e da violência.

Perdoa-nos, Senhor, por termos armado as mãos inocentes das crianças, destruindo seus brinquedos e sonhos de infância.


4ª ESTAÇÃO – Jesus encontra sua mãe


“Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe:
‘Este menino será causa de queda e de reerguimento
para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição
– e a ti uma espada transpassará tua alma! – e assim
serão revelados os pensamentos de
muitos corações”. (Lc 2,34-35)

Calcula-se que nos países pobres, por mês, morrem, na hora do parto, mais de dez mil mães por falta de medicamentos, de higiene e de alimentação adequados.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando a tua Mãe te encontrou no caminho do Calvário, ela desejou gritar ao mundo a sua dor. No entanto, chorou em silêncio junto às mães das crianças deficientes, mutiladas, encarceradas, desnutridas, exploradas e ofendidas. Uniu a sua dor à dor das mães que perderam os filhos nas drogas, na violência, nos acidentes rodoviários. Pensou nas mães do Iraque, do Afeganistão, do Sudão, de Angola, da Palestina e de Israel que vêem seus filhos massacrados na guerra. Abraçou seu Filho, e, nele, desejou abraçar a dor de todas as mães.

Senhor, porque pensamos demais em nós mesmos e em nossas pequenas dores e não sabemos confortar as mães que sofrem.


5ª ESTAÇÃO – Jesus é ajudado pelo Cireneu


“Os soldados obrigaram alguém que lá passava
voltando do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre
e Rufo, a carregar a cruz.” (Mc 15,21)

Em mais de 130 países as crianças da Infância e Adolescência Missionária ajudam as crianças de todo o mundo com oração, o sacrifício e gestos de solidariedade.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando os soldados te viram desfalecido, quiseram ajudar-te por meio de um homem que se encontrava ali por acaso. Chamava-se Simão de Cirene, que vinha da roça, depois de uma manhã de trabalho. Simão viu o teu cansaço e colocou o seu ombro junto do teu, para aliviar-te o peso da cruz.
Tu aceitaste de boa vontade, porque naquele homem cheio de compaixão, viste as pessoas de boa vontade que na vida esquecem suas fadigas para ajudar os outros. Tu pensaste nas mães, nos pais, nos sacerdotes, nos missionários, nas irmãs religiosas, em tantos voluntários que põem a própria vida a serviço dos outros, e, no teu coração, Senhor, os abençoaste.

Jesus perdoa a nossa preguiça e o nosso egoísmo, e torna-nos  disponíveis a carregar os pesos dos nossos irmãos.


6ª ESTAÇÃO –Verônica enxuga o rosto de Jesus


“Seguia-o uma grande multidão do povo,
bem como de mulheres que batiam no peito
e choravam por ele”. (Lc 23,27)

São muitos os missionários no mundo: sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos. Anunciando o Evangelho, ajudam os irmãos, despertam o rosto de Deus que dorme no coração do ser humano.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Senhor, uma mulher que não te conhecia teve piedade da tua dor e, por isso, desafiou a ferocidade dos soldados e foi enxugar o teu rosto banhado de sangue e suor. Tu desejaste recompensar o seu gesto e, por isso, deixaste no seu lenço os traços do teu rosto.
Senhor, no coração de cada pessoa está enfraquecida a luz deste rosto. Os missionários procuram reaviva-la, anunciando o teu Evangelho; mas, depois de dois mil anos, quase quatro bilhões de pessoas não te conhecem, não sabem que tu vieste para nos salvar e que cada criatura humana pode chamar a Deus com o nome de Pai.

Jesus, desperta o teu rosto adormecido no coração de cada pessoa e suscita vocações missionárias que anunciem ao mundo a tua salvação.


7ª ESTAÇÃO - Jesus é despojado de suas vestes


“...E repartiram as suas vestes,  tirando sorte sobre elas,
para ver  que parte caberia a cada um”. (Mc 15,24)

As riquezas do mundo são saqueadas pelos países ricos e nossos irmãos ficam, cada vez, mais pobres. A muitas crianças falta casa, escola, comida, paz. 
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, fizeram contigo como constantemente se faz com os pobres: despiram-te de tudo e pegaram tuas vestes. No mundo continua um sistema perverso que escava regos de injustiça: existem crianças que morrem de fome, e outras comem demais. Existem crianças que não podem ir à escola, e aquelas que não querem estudar; crianças que procuram comida no lixo, e crianças que desperdiçam; crianças que têm uma bela casa, e crianças que vivem pelas estradas; crianças que trabalham 12 horas por dia, e crianças que só pensam em brincar; crianças generosas, que ajudam os outros, e crianças que não pensam na dor e na miséria dos irmãos necessitados.

Senhor, perdoa-nos, por termos demais, e constantemente nos queixar, sem pensar nos nossos irmãos que nada têm.


8ª ESTAÇÃO - Jesus é crucificado


“Com ele crucificaram dois ladrões, um
à direita e outro à esquerda”. (Mc 15,27)

No mundo há enterradas 100 milhões de minas. A guerra covarde das minas, mesmo quando acabam, não só matam milhares de pessoas, mas também ferem irremediavelmente homens, mulheres e crianças.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, quando te pregaram na cruz, provaste uma dor infinita, como tantas crianças, mulheres e homens que são atingidos pelos homens-bombas ou mutilados pelas minas.
Senhor, depois das guerras violentas, inventamos as guerras covardes das minas e do falso heroísmo dos homens-bombas. Com eles, destruímos a vida de milhões de seres humanos que perderam seus braços, suas pernas, seus olhos... A dor dessa gente durará uma vida inteira, porque ninguém poderá recuperar o mal devastador daqueles objetos de morte.
Livra-nos, Senhor, da tentação de inventar máquinas de guerras sempre mais sofisticadas que impõem aos irmãos duras cruzes que nenhum cireneu pode aliviar.

Senhor, perdoa-nos pela crueldade e dá-nos a força para desativar as minas do mal que carregamos em nossos corações.


9ª ESTAÇÃO – Jesus morre na cruz


“Um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança,
e imediatamente saiu sangue e água”. (Jo 19,34)

Nos últimos anos, no Brasil, o número de separações e divórcios tem crescido enormemente, com consequentes sofrimentos dos filhos, que se sentem abandonados ou disputados.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, para comprovar a tua morte, o soldado romano golpeou-te com a lança, e do teu lado saiu sangue e água. Deste tudo por nós, derramaste teu sangue até a última gota, porque amas com amor infinito. Ofertaste a tua vida para a salvação do mundo. Quantas crianças carregam no coração a tragédia dos pais que se separam. Ainda na infância lhes é quebrado o sonho de uma família unida, e tornam-se objeto de briga, e nos seus corações experimentam, antes do tempo, o amargor da traição.

Perdoa-nos, Senhor, por não conseguirmos ser fiéis aos propósitos importantes de nossas vidas e por tornarmo-nos motivo de sofrimentos para os pequenos.


10ª ESTAÇÃO – Jesus é sepultado


“José de Arimatéia, tomando o corpo de Jesus,
envolveu-o num lençol limpo, e o colocou num
túmulo novo, que mandara escavar na rocha.
Em seguida, rolou uma grande pedra
na entrada do túmulo”. (Mt 27,59-60)

Em alguns países do Leste Europeu, muitas crianças, durante o inverno, vão aquecer-se nas tampas de esgotos e de água e de gás.
Nós te adoramos, Senhor, e te bendizemos,
Porque pela vossa santa cruz remiste o mundo.

Jesus, a pedra do sepulcro parecia acabar com todas as esperanças, mas tu venceste a escuridão e saíste vencedor. Também nós temos certeza de que a vida das crianças do mundo não será sempre uma vida cinzenta. Faremos de tudo para vencer a morte; porém, contamos contigo, porque o desafio é grande. Não desejamos ficar chorando sobre o teu sepulcro, não queremos continuar contando o número de crianças assassinadas, exploradas e carentes. Sabemos que o teu sepulcro ficou vazio, porque tu venceste a morte.

Senhor, ajuda-nos a esvaziar os poços de indiferença e a encher os corações da esperança que nasceu no dia da tua ressurreição.


Jesus ressuscitou!


“O anjo disse: ‘Não vos assusteis! Procurais Jesus,
o nazareno, aquele que foi crucificado? Ele ressuscitou!
Não está aqui! Vede o lugar onde o puseram!’”.  (Mc 16,6)
Na esplêndida manhã de Páscoa, fui ao sepulcro, para chorar a dor da Sexta-Feira Santa. Uma luz radiosa o envolvia e , naquele esplendor, os meus olhos não conseguiram encontrar o pranto.
Em torno do teu túmulo, havia anjos e crianças a colher flores, a brincar com as borboletas, a cantar com toda a força dos pulmões. Crianças brancas, crianças negras, crianças de todas as raças e cores entravam e saíam daquele que foi o teu sepulcro, e os anjos assistiam a tudo satisfeitos. Unindo-me a elas, esqueci as lágrimas da Sexta-Feira Santa...

Tira, Senhor, dos nossos corações a pedra que esconde a morte, e abre-nos à fraternidade, à paz, à alegria, à gratidão... Transforma os nossos sepulcros em lugares
de esperança, onde a luz apague os sonhos de morte, restituindo-nos.

 

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